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domingo, 1 de fevereiro de 2009

Figura da Semana: Sindelar

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Dados Pessoais
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Nome: Matej "Matthias" Sindelar
Data de Nascimento: 10 de Fevereiro de 1903
Data de Falecimento: 23 de Janeiro de 1939
Naturalidade: Kozlov, Áustria
Posição: Avançado
Altura: 1.75 cm
Peso: 74 kg
Internacionalizações A: 43 (27)
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Clubes
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1918-1924 : Hertha Viena
1924-1926 : Wiener Amateur-SV
1926-1939 : Fussball Klub 1911 Austria Viena
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Palmarés
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Campeonato Austríaco: 1926
Taça da Áustria: 1925, 1926, 1933, 1935, 1936
Taça Mitropa: 1933, 1936
Taça da Europa Central: 1932
Participação no Campeonato do Mundo de Futebol: 1934
Desportista Austríaco do Século: 1998
Melhor Jogador Austríaco do Século XX: 1999
100 Melhores Jogadores do Século XX Pela FIFA: 1999
Equipa Austríaca do Século: 2001
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História
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Ficará para sempre na memória de todos, as Olímpiadas de 1936, em Berlim, nomeadamente, as quatro medalhas de ouro, conquistadas pelo norte-americano Jesse Owens, com Adolf Hitler como principal espectador. A vergonha do ideal da superioridade ariana, também seria visto no futebol: na segunda fase do torneio olímpico, a selecção da Noruega, venceria a equipa da casa por 2-0, eliminando dessa forma, qualquer possibilidade, de vencerem uma medalha, na categoria de futebol. O insucesso da propaganda nazista, teria a sua grande oportunidade de triunfo, com a pacífica junção com a Áustria, em Março de 1938. Além do território, também os jogadores austríacos, seriam incorporados ao conjunto alemão, pois, na altura, a selecção da Áustria, contava com um espantoso leque de jogadores, tendo como grande figura de destaque, o melhor jogador da época: Matthias Sindelar. Descendente de origens pobres e judaicas, Matej (Matthias) Sindelar, nasceria no dia 10 de Fevereiro de 1903, em Kozlov, perto de Jihlava, região de origem checa (Morávia) e, uma das partes integrantes, do Império Austro-Húngaro. Com apenas dois anos de idade, Sindelar mudár-se-ia para o distrito de Favoriten, em Viena. Tendo começado a jogar futebol, nas ruas de Viena, Sindelar ingressaria com apenas 15 anos de idade, nos juvenis do Hertha Viena, clube onde permaneceria até 1924, altura em que trocaria o Hertha pelo Austria Viena, uma das principais equipas da Áustria, bem como, associado à classe média judaica. Matthias Sindelar foi de facto um enorme avançado-centro, de grande capacidade técnica e goleadora. O avançado subressaiu-se numa época de ultra-ofensivismos - a idolatria clubística, conquistada após liderar o Austria Viena ao título de campeão nacional, bem como das cinco taças de Áustria. Porém, seria em 1933 e em 1936 que, Matthias Sindelar, se tornaria um verdadeiro "Deus do Futebol", ao conquistar duas Taças Mitropa (torneio anterior à Taça dos Campeões Europeus, disputado principalmente, por equipas da Europa Oriental, Central e da Itália), nesses mesmos anos. Apelidado de "Mozart do Futebol", Sindelar repetiria o sucesso alcançado no Austria Viena, também na selecção austríaca, a melhor de sempre, de toda a história do futebol austríaco: a famosa "Wunderteam", a equipa maravilha, cujo estilo de jogo, viria a influenciar o "Futebol Total", praticado mais tarde, pela selecção holandesa. Matthias Sindelar faria a sua estreia, na selecção nacional da Áustria, no dia 28 de Setembro de 1926, frente ao seu país de origem, a Checoslováquia, tendo marcado um dos dois golos que, ditariam a vitória da Áustria por 2-1. Com Matthias Sindelar e mais dez, a selecção da Áustria, treinada pelo técnico Hugo Meisl, acumularia vitórias como 5-0 e mais tarde um 6-0, sobre a selecção germânica, um 6-0 diante da selecção suíça e um 8-2, frente à selecção da Hungria, erguendo assim, a Taça da Europa Central (o actual Campeonato da Europa de Futebol) em 1932 e, foi semifinalista no Campeonato do Mundo de 1934, tendo sido eliminada, pela anfitriã Itália (acabando assim, com a invencibilidade da equipa que, perdurava desde 1931), num encontro em que Mussolini, faria uma "reunião" com a equipa de arbitragem, antes do apito inicial. Sob a marcação cerrada de Luis Monti, Matthias Sindelar teria um golo regular anulado, encontrando-se lesionado, na hora do golo irregular, da equipa italiana, apontado pelo italo-argentino Enrique Guaita. Sem "Mozart", nem a maior parte da equipa principal, mas ainda com o fulgor de outros tempos, a selecção austríaca levaria a medalha de prata, nas Olímpiadas de 1936. A impressão passada, era a melhor de todas, fazendo os seus adversários tremerem e, depois do Anschlub, a anexão, animaria todo o Estado alemão. Havia ainda muito futebol por mostrar e, o Campeonato do Mundo de 1938, estava a poucos meses do seu início. Matthias Sindelar seria um extraordinário reforço, para a conquista do título mundial. Contudo, o avançado austríaco, não compactuaria com o regime nazi. Ele sentia-se austríaco, soberano e, considerando inaceitável, ter que se submeter ao mesmo símbolo "homocida" que, fez com que, os seus amigos judeus, funcionários do Austria Viena, serem perseguidos e despedidos. No dia 3 de Abril, no baldenário do Praterstadion de Viena, Matthias Sindelar tinha tudo isso em mente quando, ignorou as claras ordens que seriam passadas à sua equipa: "Nada de golos". O encontro, tinha como data, o festejo da "reunificação" da Áustria com a Alemanha, fazendo uma despedida simbólica, da selecção austríaca, com um amigável, diante do próprio acordo alemão que, não poderia ser derrotado ou humilhado, naquele momento histórico. No máximo, o conjunto alemão cederia um empate. Porém, o resultado não estava nas mãos do mesmo. A selecção austríaca, era muito superior. Era ela que, decidia todos os momentos do encontro, ou seja, os golos. Matthias Sindelar apontaria um golo, comemorando-o rindo e dançando, mesmo em frente da tribuna, onde se encontravam as autoridades nazis, fazendo com tal acto, a união total de todos os seus companheiros de equipa, ou seja, sem medo de vencer. O encontro terminaria com, a vitória da selecção austríaca por 2-0. A resistência de Sindelar manteve-se, sem nunca abandonar o seu país. "Der Papierene" ou "Homem de Papel" (apelido adequirido, devido à sua elasticidade em campo) driblava em campo, com uma enorme suavidade, tentando de igual forma, driblar as convocações da selecção alemã: ou sentia-se com idade elevada ou fingia uma lesão. Todavia, a humilhação que fizera passar, os oficiais nazistas, não seria esquecida. Como símbolo, o seu nome passaria a ser considerado pela Gestapo, um foco perigoso, cujo exemplo, poderia espalhar-se pela população austríaca. O jogador, o homem, o profissional também se encontrava "enjaulado", pois via-se privado de praticar a sua arte, devido às sucessivas recusas à selecção germânica. No dia 23 de Janeiro de 1939, a poucos dias de completar 36 anos de idade, Matthias Sindelar e, a sua companheira Camilla Castagnola, seriam encontrados sem vida, no apartamento de ambos, em Viena, vítimas de intoxicação com monóxido de carbono, enquanto dormiam. Contudo, as reais razões da sua morte, nunca seriam esclarecidas: suicídio ou assassinato? As duas hipóteses porém, seriam mais tarde descartadas, sendo que, na versão oficial, a sua morte tenha sido classificada como acidente. Não se tratava da realidade: os amigos conseguiriam arquivar as investigações, para que Sindelar pudesse receber honras de Estado, no dia do seu funeral. Dezenas de milhares de vienenses sairíam para as ruas, para acompanhar o cortejo fúnebre, tendo o Austria Viena registado, mais de 15.000 telegramas de condolências. Eram as despedidas ao seu herói. Em 1999, seis décadas após a sua misteriosa morte, Matthias Sindelar seria eleito, o jogador austríaco do Século XX, pela Federação Internacional da História do Futebol e Estatística (IFFHS), bem como o de desportista austríaco do século em 1998. Três anos mais tarde, Matthias Sindelar seria escolhido para, a equipa austríaca do século. Apesar da sua morte, estava lançado os dados para outras figuras míticas, do futebol austríaco, tal como Franz Binder que, devido à Segunda Guerra Mundial, não teria o reconhecimento merecido, pois segundo consta, o avançado terá apontado mais de 1000 golos, com a camisola do Rapid Viena, levando-o ao título em 1941. Dono de estilo apurado e clássico, elegante, inteligente e simples. Um avançado-centro rapidíssimo, de difícil marcação, alto e magro, a exactidão e a leveza com que driblava ou executava os seus passes, levaram o povo, a apelidá-lo de "Der Papierene" ou "Homem de Papel". Para a história, fica Matthias Sindelar, o símbolo da resistência à ideologia nazi. De facto, a importância de Sindelar, transcende os relvados. A sua atitude, de permanecer fiel, aos seus princípios e, a sua resistência ao nazismo e, às tropas de Hitler, fizeram dele um símbolo, não só para o povo austríaco mas, para todo o mundo. O que aconteceu então, à Áustria de Sindelar, durante a Segunda Guerra Mundial? Em 1945, ano do armistício, o campeonato nacional correria de forma perfeitamente normal, porém, com jogadores alemães a actuar no campeonato austríaco e, com jogadores austríacos a actuar no campeonato alemão. Uma interactividade tal que, em 1941, a tradicional equipa do Rapid Viena, disputaria ambos os campeonatos, tendo conquistado os dois, de igual forma. Contudo, Sindelar não viveria o suficiente, para visualizar tal acontecimento. Para ele, naquele derradeiro Janeiro, a guerra estava perdida. A sua Áustria já não era dos austríacos e, a célebre "Wunderteam" fora-se para sempre. "Mozart do Futebol", como os jornalistas o chamavam, ou Motzl, para os companheiros de equipa, Matthias Sindelar permanece como a mais cintilante estrela internacional que, a Segunda Guerra Mundial, algum dia, roubou ao mundo do futebol.
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