Tudo o que precisava de saber sobre o mundo do futebol

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Figura da Semana: Rinus Michels

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Dados Pessoais
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Nome: Marinus "Rinus" Jacobus Hendricus Michels
Data de Nascimento: 9 de Fevereiro de 1928
Data de Falecimento: 3 de Março de 2005
Naturalidade: Amesterdão, Holanda
Posição: Avançado
Altura: 1.88 cm
Peso: 80 kg
Internacionalizações A: 5
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Clubes
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1946-1958 : Amsterdamsche Football Club Ajax
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Técnico Principal
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1960-1964 : JOS
1964-1965 : AFC
1965-1971 : Amsterdamsche Football Club Ajax
1971-1975 : Futbol Club Barcelona
1974-1974 : Selecção Nacional da Holanda
1975-1976 : Amsterdamsche Football Club Ajax
1976-1978 : Futbol Club Barcelona
1979-1980 : Los Angeles Aztecs
1980-1984 : Futbal Club Colónia
1984-1985 : Selecção Nacional da Holanda
1986-1988 : Selecção Nacional da Holanda
1988-1989 : TSV Bayer 04 Leverkusen
1990-1992 : Selecção Nacional da Holanda
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Palmarés
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Campeonato Holandês (Eredivisie): 1947, 1957, 1966, 1967, 1968, 1970
Taça da Holanda (Royal Netherlands Football Association - KNVB): 1967, 1970, 1971
Finalista da Taça da Holanda: 1968
Taça dos Campeões Europeus: 1971
Finalista da Taça dos Campeões Europeus: 1969
Taça Intertoto: 1962
Vice-Campeão do Mundo de Futebol: 1974
Campeonato Espanhol: 1974
Cavaleiro da Ordem de Orange-Nassau: 1974
Vice-Campeão de Espanha: 1973, 1977, 1978
Taça do Rei: 1978
Taça da Alemanha: 1983
Vice-Campeão da Alemanha: 1982
Campeonato da Europa de Futebol: 1988
Oficial da Ordem de Orange-Nassau: 1988
Técnico do Século FIFA: 1999
Cavaleiro da Royal Netherlands Football Association: 2002
Melhor Técnico dos 50 Anos do Futebol Profissional Holandês: 2004
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História
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Marinus "Rinus" Jacobus Hendricus Michels, nascido no dia 9 de Outubro de 1928, em Amesterdão foi, sem dúvida alguma, uma das maiores figuras, de toda a história do futebol mundial. Nascido e criado, perto do Estádio Olímpico, Michels ao celebrar o seu nono aniversário, ele receberia como prendas, um par de botas e, uma camisola do Ajax. Momentos mais tarde. ele e o seu pai, encontrár-se-iam a jogar num pequeno campo, perto das suas casas. Através de um amigo da família, Joop Kohler, Michels seria apresentado ao clube de Amesterdão e, introduzido na equipa dos juniores do clube em 1940. Quando a Segunda Guerra Mundial começou, a carreira de Michels iria estagnar. Os franceses do Lille OSC tentariam então, o acordo entre ambos, levando-o assim, para uma carreira internacional, porém, o exército holandês, não o permitiria, devido aos obrigatórios compromissos com o mesmo. No dia 9 de Junho de 1946, Michels seria convidado pelo Ajax, para substituir o lesionado Han Lambregt. No dia da sua estreia, o Ajax venceria o ADO por 8-3, com Michels a apontar cinco dos oito marcados. Nessa época, o Ajax conquistaria o 14º título de campeão nacional e, um ano mais tarde, conquistaria a Taça da Holanda. Embora houvesse sérias dúvidas, em relação às suas capacidades técnicas, enquanto profissional, os companheiros de equipa Cort Van der Hart e o capitão Joop Stoffelen estavam entusiasmados, com a sua força e capacidades no jogo aéreo. No final, Michels seria reconhecido mais pela sua capacidade de entrega do que, pelas suas capacidades técnicas. Contudo, Rinus Michels tornár-se-ia, em um habitual titular na equipa de Amesterdão, tendo entre 1946 e 1958 realizado um total de 264 partidas e 122 golos apontados. Em 1958, quatro anos depois da introdução do futebol profissional, na Holanda e, um ano depois de ter conquistado o seu segundo título, de campeão nacional, Michels seria forçado, a abandonar a sua carreira profissional, devido a uma lesão nas suas costas. A carreira internacional de Michels, ao serviço da selecção nacional da Holanda, duraria apenas cinco partidas, tendo feito a sua estreia, no dia 8 de Junho de 1950, na derrota por 4-1, frente à selecção da Suécia. Nas cinco partidas disputadas, com a camisola "laranja", Michels perderia todas elas: 4-1 frente à Finlândia; 4-0 frente à Bélgica; 6-1 frente à Suécia e 3-1 frente à selecção da Suíça em 1954. Esta seria a última partida de Rinus Michels, com a camisola da Holanda. Revemos os jogos das grandes equipas do passado e, apesar da sua beleza, quase todos eles parecem, no ritmo e no estilo, ultrapassadas no tempo. Existem, porém, duas excepções: o Ajax do início dos anos 70 e, a Holanda no Mundial de 1974. Ainda hoje, o futebol praticado por estes dois míticos onzes está avançado no tempo. O seu mentor, um homem que mais do que um simples treinador, descobriu a pedra filosofal da abordam táctica do jogo, na chamada era moderna: Rinus Michels. A década de 60 e a sua cultura hippie, começava a consciencializar as mentes humanas, quando em 1965, o ainda jovem Rinus Michels, de 37 anos de idade, aceitara, depois de treinar o modesto Zandovoort-Meeuwen, para trabalhar nas camadas jovens do Ajax. Era alí, como um filho de Amesterdão cosmopolita, que nascera em ano de Jogos Olímpicos, 1928, numa rua bem perto do Estádio onde eles se realizavam, onde se sentia melhor. Ao mesmo tempo, no banco da equipa principal, sentava-se o britânico Vic Buckingham. Apesar de contar com figuras como Keizer, Suurbier, Swart e um miúdo franzino de 17 anos de idade, Cruyff, estava porém, após uma série de derrotas, muito perto de descer de divisão. Foi então que, o Presidente Jaap van Praag decidiu-se pela chicotada e, pela primeira vez na história do Ajax, apostar num técnico holandês, para orientar a equipa: Rinus Michels, um homem simples, algo introvertido até, que, fizera uma discreta carreira como ponta-de-lança do Ajax. Em finais de 1966, os dois homens que iriam revolucionar o Ajax, bem como todo o futebol mundial, Michels e Cruyff, estavam reunidos no laboratório de De Meer. O famoso "Futebol Total" encontrava-se em estado de embrião. Durante a sua carreira como jogador, no Ajax, Michels conhecera treinadores como Jack Reynolds, Humenberger, Buckingham, Spurgeon e Jack Rowley. Todos eles, de origem anglo-saxônica, preconizavam sistemas básicos de futebol, sobretudo os britânicos, adeptos do tradicional jogo directo. De todos, Buckingham era o mais aberto ao estilo continental. Mesmo quando estava em campo, porém, Michels já imaginava outras formas de abordar o jogo. A base da sua ideologia, então em embrião, residia na escola húngara dos anos 50. Na sua mente, quando a bola estava longe, idealizava outros movimentos, outra forma de elaborar as jogadas, enfim, outro tipo de futebol. De início, pensou aplicar essas teses nas camadas jovens. Quando surgiu a oportunidade de aplicar essas ideias, a nível sénior, não hesitou e, transformando o Ajax num protótipo de uma precursora ideologia futebolística, mudou, para sempre, o curso da história táctica do jogo. Cada época criou o seu futebol da era moderna. Nessa perspectiva histórica, o Futebol Total foi, na génese, como o revitalizar do esquema húngaro de 1954, acrescentando-lhe a circulação de bola e a permanente intensão de jogar pelos flancos. O primeiro impacto surgiu em 1967, quando o Ajax espantou a Europa, ao golear o Liverpool por 5-1, nos quartos-de-final da Taça dos Campeões. A eliminação na ronda seguinte frente ao Dukla, mostrou que a equipa, ainda não se encontrava totalmente lapidada, mas, quando em 1969, chegou à final, que perdeu frente ao AC Milan, por 4-1, todos sentiram que, em breve os géniozinhos de Michels iriam assombrar a Europa. Assim foi. Em 1971, inicia-se o ciclo mágico. Apenas 14 jogadores bastaram para conquistar três Taças dos Campeões Europeus. Os hérois foram o guarda-redes Stuy, e os vagabundos Krol, Suurbier, Rijnders, Hulshoff, Vasovic, Blakenburg, Neeskens, Muhren, Cruyff, Haan, Swart, Keizer e Van Dijk. Michels só esteve presente na primeira conquista (as outras duas foram com Kovacs, seu devoto seguidor) . Voltaria a encontrar muitos deles, porém, poucos anos depois na selecção holandesa, quando após um dífícil apuramento, para o Campeonato do Mundo de 1974, a Federação afastou o treinador checo Frantisek Fadrhone e, convidou Michels, na altura em Barcelona, juntamente com Cruyff, para seleccionador nacional, com o objectivo de incutir no onze, os mesmos princípios de jogo. A sua famosa postura de disciplinador (daí as alcunhas de "General" ou "Homem de Ferro") era mais uma estratégia motivacional de líder, do que uma verdadeira extensão da sua personalidade. Quem o conheceu, fala de um homem que gostava de sorrir. Durante os jogos, no banco, raramente mexia um único músculo da sua face. Aí sim, era a tal famosa esfinge. Curiosamente, seria em 1988, com idade mais avançada que, o veríamos a sorrir no banco, sobretudo após o fabuloso golo de Van Basten a Dassaev, na final do Campeonato da Europa do mesmo ano. É errado definir-se o Futebol Total como, uma ideologia em que os jogadores não tinham posição certa em campo e, trocavam constantemente de posto. A verdade é que, até talvez em mais nenhum sistema, os jogadores sabiam exactamente o seu papel e posição incial em campo, como no esquema de Michels. O segredo encontrava-se na dinâmica posicional que, cada um deles incutia a cada posto, com a consequente circulação de bola, desenhada em constantes mudanças de flanco, o célebre "carrocel mágico" e, no aproveitamento dos espaços vazios. A chamada desorganização organizada. Uma aparente anarquia futebolística, transformada em sistema e em táctica. Futebolisticamente poético, os holandeses giravam em campo, lembrando as pás de um moinho. Por isso, mesmo correndo o risco de ferir a história, mais do que Futebol Total, talvez fosse mais correcto chamár-lhe futebol circular. Há quem diga, e com razão, que quem não viu jogar ao vivo esta selecção holandesa (1974), então nunca a viu verdadeiramente jogar. Ao longo dos tempos, o futebol adquiriu diferentes contornos tácticos. Todos eram sistemas que se podiam traduzir no papel. A partir do Futebol Total, tudo mudou. Por isso, pode-se dizer que, mais do que um sistema de jogo, era uma atitude competitiva perante o jogo. Esquematizando, o famoso "Futebol Total" era um 4x3x3, com uma defesa em linha de quatro elementos, três médios organizadores e três avançados que partiam de perto do meio-campo. No relvado, porém, com a marcação à zona, nenhum dos jogadores se limitava à sua posição inicial. Incutia dinâmica ao sistema e, assim, nas sincronizadas movimentações do colectivo revolucionava a abordagem táctica do jogo. A grande revolução táctica, mais do que um posicionamento dos jogadores no campo, apostava na dinâmica da táctica. Tudo isso, exigia grande condição física dos atletas. Quando, por exemplo, quem conduzia a bola pela esquerda via que, não tinha linha de penetração, passava-a para um elemento mais recuado, mais para dentro do campo, para que o jogo fosse virado para o flanco oposto. Os adversários ficavam hipnotizados com este carrocel, até que o espaço era criado e, Cruyff ou Rep surgiam, desmarcados, em zonas de remate. Assim, com a bola, o esquema podia desenhar-se num 3x1x3x1x2, ou seja, Suurbier, Haan e Krol, Rijsbergen, o quarto defesa que se adiantava, Neeskens, à direita, Jansen e Van Hanegem sobre o centro, Cryff, interior organizador esquerdo, Rep e Resenbrink, avançados móveis que, deambulavam por toda a frente de ataque, descaindo quase sempre para os flancos. A subida do quarto defesa, sempre se revelou muito importante na dinâmica do sistema de Michels. Na época seguinte, por exemplo, em Barcelona, era Marinho Peres quem ouvia constantemente as ordens, para subir no terreno, sempre que a equipa recuperava a bola. Catorze anos depois, quando na sua segunda passagem pela selecção, guiou a Holanda à vitória no Campeonato da Europa de 1988, o defesa que se transformava em médio transportador, que inicia a saída de bola para o contra-ataque era o trinco adaptado, Frank Rijkaard. Embora partisse dum 4x4x2 mais clássico, a dinâmica posicional de jogadores como Koeman, Rijkaard, Wouters e, sobretudo Gullit, tinham igualmente como base de ensinamentos do futebol total de 1974. É difícil precisar quando e como, surge pela primeira vez, o termo "Futebol Total" para definir o sistema holandês. O próprio Michels recusava a paternidade do termo, atribuindo-a a jornalistas que, viram jogar as suas equipas. É até curioso notar, vasculhando os arquivos que, essa mesma expressão "Futebol Total", fora utilizada nas páginas de "A Bola", pelo mestre Vítor Santos, para descrever a forma de jogar da selecção portuguesa, no Mundial de 1966... Só cinco anos depois, o primeiro grande Ajax de Michels conquistaria a Taça dos Campeões, utilizando o idolatrado sistema que, seria depois, seguido pelo romeno Stefan Kovacs que, em 1972, substituira Michels no comando técnico do Ajax. A fama do Futebol Total, como sendo quase uma pedra filosofal do bom futebol permaneceu, no entanto, até aos dias de hoje. Mas faz ainda sentido, no presente,considerá-lo como um sistema táctico avançado? Claro que sim. A principal razão para esta conclusão, reside num dos fundamentais principios que, as grandes equipas do nosso futebol moderno devem ter presentes: a fase defensiva não se distingue da fase ofensiva e vice-versa. Ou seja, a noção avançada de que as missões de defender e de atacar, nunca podem ser compartimentos estanques, mas, pelo contrário, tem de ter, interligação plena, ao ponto da capacidade de distinguir esses dois momentos fosse reduzido ao mais mínimo espaço temporal, quase imperceptível a olho nu. É por isso, que se pode afirmar que, no Futebol Total todos atacavam e todos defendiam. Michels foi o primeiro treinador a introduzir essa noção de dinâmica de uma equipa em campo, condicionando assim, para sempre o seu status táctico. Ciclicamente, depois com o passar dos tempos, esses conceitos foram sendo lapidados e encontram hoje total corolário na eficácia das famosas transições defesa-ataque-defesa. A equipa que as fizer melhor, mais rápido e de forma mais eficaz, é a competitivamente mais forte. As bases que sustentam todas essas teorias alicerçam-se, claramente, nos ensinamentos do Futebol Total. Entre a revolução encetada no Ajax, laboratório do Futebol Total e, a consagração planetária no Mundial de 1974 com a Holanda, Rinus Michels esteve quatro épocas em Barcelona. Ao contrário do Ajax e da Holanda, ninguém recorda, no entanto, o seu Barça também como profeta do Futebol Total. Como é isso possível? A resposta podia-nos levar para o eterno debate entre o sistema e os jogadores. Qual é o mais importante, qual está primeiro, e quem deve adaptar-se a quem? Quando Michels foi contratado pelo Barcelona (curiosamente, para substituir o mesmo Vic Buckingham que, substituira no Ajax em 1965) a intensão era que também o colocasse a jogar como o Ajax. A esfinge chegava à Catalunha, no entanto, numa altura em que o futebol espanhol, fechara as portas a jogadores estrangeiros. Assim, tentou, por exemplo, que Alfonseda fosse Keizer e, fracassou. Á 10ª jornada, o Barcelona encontrava-se em penúltimo lugar. As críticas começavam. Mais tarde, uma derrota frente ao Córdoba afastou-o da luta pelo título. No segundo ano, terminaria em 3º lugar. As relações com os jogadores estavam cada vez mais tensas. Na época seguinte, porém, passou a ser permitida a contratação de dois jogadores estrangeiros. Chegaria Cruyff e, num ápice, o sistema começaria a ganhar vida própria. Jogando um futebol que, por fim exteriorizava as bases do projecto-Michels, o Barcelona reconquistaria, 14 anos depois, o título de campeão nacional, numa época (1973/1974) memorável, eternizada com uma mítica vitória sobre o Real Madrid, em pleno Chamatín, pot 5-0. Para além de Cruyff, brilhariam nesse onze jogadores como Rexach, Asensi, Marcial e o peruano Sotil. Na temporada seguinte, porém, com Neeskens (médio) no lugar de Sotil (avançado) o onze perderia o equilíbrio e, os títulos nunca mais apareceriam. Foram então os jogadores que fizeram o Futebol Total? Sim e não. O sistema Michels foi uma ideologia futebolística enovadora, mas que, como qualquer sistema táctico, nunca lograria a mesma dimensão mundial sem a fabulosa geração de jogadores que, Michels teve ao seu dispor. Para que a sua essência se traduza em campo, são obrigatórios jogadores tacticamente muito evoluidos, ao ponto de entenderem o verdadeiro sentido das palavras: dinâmica e polivalência. O tipo de jogador que sabe saltar a fronteira entre a acção específica inicial, para que foi designado e, a dinâmica posicional, susceptível de ser-se incutir ao lugar, para a qual lhe foi concedida liberdade, ao ponto de ser difícil saber-se qual o seu posto original. Assim, Michels e Cruyff foram mais do que um treinador e jogador. Foram mestre e feiticeiro. Foram pai e filho. Foram a prolongação de um do outro, do banco para o relvado e vice-versa. Quando chegou à selecção, em 1974, Michels deparou-se logo, com um grave problema na formação da equipa. O grupo estava claramente dividido em dois conjuntos. De um lado, os jogadores do Ajax e do outro, os jogadores do Feyenoord. Eram do grupo de Roterdão que, vinham as maiores críticas à aplicação dos principios do Futebol Total no jogo da selecção. De início, Michels tinha a intensão de equilibrar os dois conjuntos, mas a situação iria tornár-se mais complicada depois de supostamente, também Cruyff entrar em conflito com os seus antigos companheiros do De Meer. "A selecção devia de ser formada, com base em cinco homens do Ajax e quatro ou cinco do Feyenoord, mas as duas equipas jogavam com tácticas diferentes e, nem os jogadores do Ajax, nem os os do Feyenoord estavam dispostos a aceitar o sistema táctico de ambos. Assim, era impossível conseguir um verdadeiro conjunto". Conta Cruyff no livro Mundiais 74. Após uma série de jogos particulares pouco convincentes, Michels estabeleceu as orientações. Disse a todos os jogadores, qual iria ser a sua opção táctica e colocou todos à vontade. Quem não estivesse disposto a acatá-la podia voltar para casa. Deu-lhes uns dias para compreenderem a sua táctica e, decidir o que fazer. Ao fim de uma semana, perguntou a cada um deles, se aceitava ficar, explicando-lhes que, ao aceitar, teria que ser de uma entrega total. Quem não está connosco, é contra nós. Quando fez a equipa, Michels apenas tinha uma única certeza: ela teria que girar em torno de Cruyff. No ataque, as opções de Michels recaiam em Rep, revelação do novo Ajax e, em Resenbrink, veloz extremo do Anderlecht que, tirava assim, o lugar de titular a Keizer, histórico jogador do Ajax, contudo, sem a energia de outros anos. Na defesa, existia um sério problema: a lesão do líbero Israel. Quem iria liderar o sector com a mesma autoridade? Foi então que, astuto, Michels inventou um dos melhores líberos, da história do futebol holandês: Haan, que até ao momento jogara apenas como médio, mas que, agora no centro da defesa, formaria com Rijsbergen, jogador que até ao Mundial, jogara apenas uma vez na selecção, uma imponente dupla de centrais, ao ponto de Israel não voltar a entrar na equipa, mesmo depois de recuperar da lesão. No meio-campo, Michels tinha de decidir entre o trio do Ajax, composto por Arie Haan, Neeskens e Muhren e, do trio do Feyenoord, com Theo de Jong, Wim Jansen e Wim Van Hanegem. Eram todos grandes jogadores. A opção de Michels teria de ser feita, tendo em conta, a capacidade de cada um se adaptar às suas directivas tácticas. Com Haan recuado e Muhren forçado a sair, devido a uma doença do seu filho, o trio do meio-campo acabaria por ser formado por: Neeskens, uma espécie de trinco box-to-box, usual no presente, mas revolucionário nos anos 70; Jansen, o grande lutador que, ocupava todos os espaços, em busca da recuperação da bola; e Van Hanegem, na esquerda, um lutador de grande carácter que era o patrão do Feyenoord. Era a primeira vez que, este onze jogaria junto e, cinco deles estreavam-se nas respectivas posições, mas jogando com uma velocidade e ligação de sectores quase sobrenatural, ele seria titular durante todo o Campeonato do Mundo. De todos os feitos de Michels, o maior fora, sem dúvida, o de conseguir esta coesão e unidade, num grupo que pouco antes, parecia totalmente desintegrado. A explicação para tal era simples: todos estes jogadores, eram verdadeiros fora-de-série, com uma concepção moderna e profunda do futebol. Para a história fica Rinus Michels, o home que um dia, mudou toda a história do futebol mundial. Para a história fica Rinus Michels, o melhor técnico de todos os tempos.
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